terça-feira, 6 de dezembro de 2011

COMO COSNTRUIR NA ESCOLA UM CONHECIMENTO PARA A VIDA?

A partir do momento em que começamos a compreender o mundo, já recebemos de nossos pais, ou alguém mais próximo, a afirmação de que é necessário ir à escola para aprender. Com o Passar do tempo, somos impregnados de informações que nos levam a crer que a educação neste “ambiente de construção do saber” é necessária, pois é nela que vamos conseguir o acesso a um prêmio denominado de “ser alguém na vida”, tudo aquilo que sonhamos em ser, ou seja, a realização de um sonho nosso e de nossos pais. Assim a educação se tornou para muitos, hoje a porta para o sucesso profissional. Mas será que isso é o bastante? O objetivo da escola, conjugado com o nosso, não deveria ser a busca por um conhecimento para minha edificação humana? A educação ao invés de ser apenas uma qualificação humana, não poderia fornecer subsidio ao educando, meios para torná-lo mais humano, ciente de seu papel como cidadão, como aquele barqueiro que apesar de não saber nada sobre ciências naturais, conhecia o suficiente para viver uma vida em harmonia consigo e com o mundo.
Assim ao entrar nesta instituição de ensino, principalmente no ensino médio, tenha sempre em mente, alguns critérios bem definidos, como por exemplo: Em que isso irá contribuir para minha formação, não só profissional , mas também, humana? Ou em que momento do meu cotidiano eu posso usar isso que estou estudando?
Essa preocupação por uma educação capaz de edificar o homem para viver em harmonia, não é de hoje. Existem pessoas que há muito tempo já haviam pensado nesse assunto, como é o caso de Platão, um filósofo grego que viveu entre os anos 427 a 347 a.C. Platão, naquele tempo, foi capaz de perceber que havia a necessidade de uma instituição capaz de educar o homem para viver em harmonia consigo mesmo e com o mundo que o cercava. Para alcançar tal objetivo ele se utilizou de dois modelos educacionais: o de Atenas e de Esparta.
A educação Ateniense tinha três estágios, que podemos denominar de : primário, secundário e terciário. Nestes dois primeiros, o homem aprendia a ler, escrever, fazia ginástica e aprendia música. Aqueles que tinham condições financeiras poderiam pagar um curso de formação política, com aulas de retórica e dialética, com duração de dois anos. Somente após os dezoito anos o estado começava a financiar a educação do indivíduo. Sendo esta a faze terciária, composta apenas pelo treinamento militar.
Esse modelo de educação prejudicava muita gente, pois a maior parte da população não tinha condições para manter os estudos dos filhos e, muito menos, pagar um curso de dois anos, para que ele alcançasse um cargo político. Isso gerava grandes diferenças sociais.
Já o modelo educacional espartano, era totalmente diferente. Enquanto Atenas era uma cidade muito avançada culturalmente, Esparta ainda era muito pouco desenvolvida nesse aspecto. Ela era um estado militarizado, que exigia estrita obediência de seus cidadãos. Os jovens eram tirados de casa aos sete anos de idade e entregues a um funcionário do estado responsável por sua formação militar. Desenvolvendo exclusivamente o espírito guerreiro, com exercícios físicos e músicas, dirigidos para o estimulo da coragem, eles desprezavam totalmente o lado literário da educação. Muitos deles nem sabiam ler e nem escreviam.
Esse tipo de educação não gerava um homem completo, desenvolvia apenas a coragem sem levá-lo a compreender o mundo que o cercava.
Platão faz então uma síntese do que há de melhor entre esses dois modelos educacionais, criando assim, aquele que seria o mais completo modelo educacional. De Atenas ele retira o aspecto individual, no qual visa o desenvolvimento integral do homem e , de Esparta ele capta o aspecto social, onde o estado controla e mantém a educação, gerando harmonia entre cidadão e política.
Para transformar a sociedade, Platão institui um esquema de educação social que ajusta o indivíduo as suas funções, não só profissional, como também humana. Seu método apesar de ter sido edificado há muito tempo atrás, ainda se faz necessário e atual. Afinal, o verdadeiro objetivo da educação ainda é ensinar a pessoa a reconhecer e assumir seu papel dentro da sociedade. A educação é capaz de fornecer meios para enfrentar as dificuldades da vida?

domingo, 30 de outubro de 2011

Explicação possível do Mito da Caverna



Quando nascemos absorvemos as ideias do mundo que nos rodeia. Por exemplo, se desde pequeno você fosse ensinado a adorar o Mickey como um deus e todos a sua volta o adorassem, você acreditaria por um bom tempo que Mickey, realmente era um deus, pois todos a sua volta o adoravam também.
Contudo, você percebe que o Mickey não tem poder algum e, avisa aos outros, porém eles não lhe acreditam. Libertar-se da caverna é libertar-se de verdades pré-estabelecidas pela sociedade, que não são verdadeiras.
Somente àquele que se liberta da caverna pode, julgar por si só o que é certo ou errado para ele, sem a ótica do coletivo.
Platão dizia que seus contemporâneos, viviam com suas crenças e superstições  ao passo que o filósofo era qual um fugitivo capaz de escapar das amarras que prendem o homem comum às suas falsas crenças e, partindo na busca da verdade consegue apreender um mundo mais amplo. Ao falar destas verdades para os homens afeitos às suas impressões, não apenas não seria compreendido, como tomado por mentiroso, um corruptor da ordem vigente.
                                     
O mito da caverna de Platão, tem várias interpretações, cada pessoa poder ver algo nele, porém a maioria concorda com o significado: a grande massa dos homens só percebem as coisas grosseiras da vida. No referido mito Platão quis mostrar muitas coisas, uma delas é  que sempre é doloroso chegar ao conhecimento verdadeiro, temos que percorrer caminhos bem definidos para alcançá-lo, uma vez que romper com a inércia da ignorância (agnosis) requer sacrifícios. A primeira etapa a ser atingida é a da opinião (doxa), quando o indivíduo que se ergueu das profundezas da caverna tem o seu primeiro contato com as novas e imprecisas imagens exteriores. Nesse primeiro instante, ele não as consegue captar na sua totalidade, vendo apenas algo impressionista flutuar a sua frente. No momento seguinte, porém, persistindo em eu olhar inquisidor, ele finalmente poderá ver o objetivo na sua integridade, com os seus perfis bem definidos. Aí, então, ele atingirá o conhecimento (episteme). Essa busca não se limita a descobrir a verdade dos objetos, mas algo superior: visa chegar a contemplação das ideias morais que regem a sociedade o bem (aghatón), o belo ( to kalón) e a justiça (dikaiosyne).
É como uma visão da luz nas trevas da Ignorância, através da dialética e de uma nova visão do mundo em que habitamos.

domingo, 18 de setembro de 2011

RESPOSTA À REVISTA VEJA

Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberde Abreu Lima “Aula Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS  razões que  geram este panorama desalentador. Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas  para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.

Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital? Em que  pais de famílias oriundas da pobreza  trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos  em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.
Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”. Estímulos de quê?  De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.
Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.
Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos,  há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria.
Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos,  de ir aos piqueniques, subir em árvores?
E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria.. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência.
Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.
Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução),  levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.
E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores “incapazes”,  elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração;
Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40 h.semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário.
Há de se pensar, então, que  são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que  esforcem-se em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave.
Temos notícias, dia-a-dia,  até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.
Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite.
E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.
Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é  porque há disciplina. E é isso que precisamos e não de cronômetros.  Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se. Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade.
Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade!  E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões  (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!!
Passou da hora de todos abrirem os olhos  e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os profesores  até agora  não responderam a todas as acusações de serem despreparados e  “incapazes” de psrender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.
Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.

domingo, 4 de setembro de 2011

A família e o individuo.



Os filhos não tinham qualquer direito a uma vida privada. O tempo livre deles não lhes pertencia: cabia aos pais, que os encarregavam de mil tarefas. Eles vigiavam minuciosamente as relações de seus filhos e mostravam grande reticência quanto às amizades extra familiares.
O controle das relações dos filhos se estendia, naturalmente, à correspondência: ler suas cartas não era apenas hábito, era uma obrigação, caso se quisesse educá-los bem. Quando os filhos ficavam longe dos pais, nem por isso essa obrigação deixava de existir; passava a ser delegada a outrem: ainda em1930, as cartas enviadas aos alunos internos dos liceus deviam apresentar do lado de fora a assinatura dos pais, autorizando os filhos a recebê-las, a qual devia ser verificada pelo diretor.
Essas práticas educacionais davam aos pais o poder de decidir sobre o futuro dos filhos, sobre o futuro, em primeiro lugar, profissional. Na burguesia, são os pais que decidem os estudos que serão feitos pelos filhos. Entre o povo, são eles que escolhem o ofício a ser ensinado e colocam os filhos como aprendizes.


A Socialização da Educação dos Filhos


O desenvolvimento da instituição escolar é uma das principais características da evolução social na segunda metade do século XX.Mas é preciso avaliar a medida exata do fenômeno.
De um lado, trata-se de um prolongamento da escolaridade. De outro uma necessidade emergente, afinal como os filhos já não podem aprender um ofício com os pais, porque estes já não trabalham mais em casa, eles têm de aprender uma profissão fora.
De fato, o aumento da escolarização remete a transformações muito mais profundas; mais do que uma socialização dos aprendizados, é um aprendizado da sociedade. Antes, esse aprendizado se dava dentro da família, e esta podia ser definida com justeza como a “célula de base” da sociedade. Sob fortes pressões econômicas, ela era regida por normas que podiam ser aplicadas em meios mais abrangentes, submetidos a pressões semelhantes. Essas pressões quase desapareceram após a transferência do trabalho produtivo para fora da família. Se os pais se tornaram menos  autoritários, mais liberais, mais abertos, é sem dúvida porque os costumes evoluíram, mas também e principalmente por que as razões de impor esta ou aquela atividade aos filhos deixaram de existir. A autoridade dos pais se tornou arbitrária e, deixando de ser uma orientação dada a tarefas familiares indiscutíveis, ela passa a se exercer no vazio. Os pais de antigamente eram autoritários tanto por costume quanto por necessidade: quando vinha a ameaça de uma tempestade, eles não iam perguntar a opinião dos filhos antes de mandar recolher o feno, e é claro que alguém precisava ir buscar água, lenha etc. A necessidade fazia a lei.
A liberalização da educação faz com que a família transfira para a escola o aprendizado da vida em sociedade. A escola recebe a incumbência de ensinar os filhos a respeitar as obrigações do tempo e do espaço, a regras que permitem viver em comum e encontrar a relação justa e adequada com os demais. Na França a partir de 1959, vem se impor progressivamente a norma de colocar os filhos no jardim de infância. Antes, pelo contrário, a norma era conservá-los o maior tempo possível, e até alfabetizá-los em casa. O jardim de infância era uma saída por falta de outras alternativas, uma creche para as mães pobres que tinham de trabalhar, mas de repente torna-se preferível que os meninos freqüentem o maternal, em vez de ficarem junto com suas mães. A escolarização no jardim de infância se generaliza, e os pais das camadas superiores dão o exemplo, a começar pelos mais qualificados e mais urbanos, mesmo quando a mulher não trabalha. A opção é clara: “a escola é melhor que a família”, e passa a ocupar seu lugar.
Se a família é substituída pela escola, e com seu próprio consentimento, é porque ela tem consciência de uma incapacidade estatutária: como toda educação é educação para a vida pública, a família, ao se tornar puramente privada, deixa de ser plenamente educativa. Os pais constatam o fato a sua maneira, mais concreta, ao dizer que não sabem como entreter os filhos.


Inversão de pensamento

A transferência da função educativa da família para a escola supunha que a família reconhecesse a legitimidade e o valor das relações extrafamiliares. Considerando-se a única realmente capaz de educar seus filhos. A família antiga era muito cuidadosa quanto a amizades extrafamiliares. O movimento que generaliza o recurso ao jardim de infância procede de uma norma inversa: é bom que os filhos tenham contato com filhos de outras famílias. O aprendizado da vida em sociedade passa por aí.
A partir do momento em que os filhos têm suas próprias relações, formam-se grupos de amigos ou colegas. A transferência  da educação para uma instância pública, a escola, gera outros centros de vida privada, que concorrem com a família. Os adolescentes recusam ter seu lazer organizado por entidades estruturadas. Eles aceitam instituições como a escola porque sabem que é uma necessidade social, mas, a seus olhos, ela deriva do universo do trabalho, o mais público dentre todos. O universo do lazer, o da vida privada, não pode se inscrever em instituições que imponham regras de vida coletiva.
O mesmo problema se coloca aos pais: se fazem da família uma instituição coercitiva demais, os filhos se afastam, mas, por outro lado, a família não pode existir no dia-a-dia sem um mínimo de regras: conseguem estabelecê-las graças a acordos provisórios, manobras mais ou menos hábeis, negociações mais ou menos conflituosas.
Esse ajuste é facilitado por outra conseqüência do aumento do período de escolarização: a intervenção crescente da instituição escolar nas decisões que envolvem o futuro dos filhos. Na medida em que a escolarização dos aprendizados amplia o papel da escolaridade na determinação do futuro social, a escolha dessas escolaridades passa a escapar aos pais. O local de domicílio decide sobre escola de primeiro grau e, depois, de segundo grau que o filho deve freqüentar é a “setorialização” No segundo grau, a orientação vocacional decide sobre ingresso do aluno em determinada seção dessa ou daquela escola, onde essa orientação será obedecida. Apenas os bons alunos têm o direito de escolher; os outros seguem o que a orientação lhes impõe.
Certamente, essa transferência de encargos outrora atinentes às famílias gera conflitos. Mas embora contestada, não deixa de ser cômoda: de fato, ela transfere pressões desagradáveis para uma instância externa, livrando os pais de exercer pessoalmente uma pressão que dificultaria ainda mais as relações familiares.




O aumento do controle


A intervenção pública na educação dos filhos não se limita à escolaridade; ela se fortaleceu em outros domínios. Mal é concebida, a criança já interessa ao estado, e o serviço de atendimento materno e infantil submete a mãe a três visitas médicas antes do parto (pré-natal), caso ela queira se beneficiar dos subsídios previstos. Tem-se o mesmo acompanhamento médico durante a amamentação e o período de lactação. As vacinas são obrigatórias. Em suma com a generalização dos abonos-famílias, o acompanhamento médico da gravidez e da infância se fortalece.
Toda a educação pode ser controlada por instâncias públicas. Uma legislação complexa permite que o juiz de menores retire a guarda dos filhos de uma família para entregá-los a uma pessoa autorizada. O fato de uma autoridade pública possa confiar a educação de filhos a outro que não sejam os pais revela o deslocamento da função educativa para fora da esfera privada.
A educação dos filhos é assegurada apenas em parte pelos pais, e sob o controle do poder público. A família, portanto, deixa de ser uma instituição para se tornar um simples ponto de encontro de vidas privadas.


Texto base A FAMÍLIA E O INDIVIDUO, pgs. 80 a 87

Para saber mais:

FOUCAULT, Michel, Vigiar e Punir. Rio de janeiro: Graal, 1984.
­­­­­­­­­­­­­­­­_________________, Microfísica do Poder, Rio de janeiro: Graal, 1984




domingo, 28 de agosto de 2011

Apreciação crítica do Conto Mariana de Machado de Assis





Contesto da publicação

O conto “Marina” é publicado em janeiro de 1871, no Jornal das Famílias. No ano anterior, o governo imperial decreta a abolição unilateral da escravidão – mas não no Brasil, e sim no Paraguai, ocupado por tropas brasileiras desde sua derrota na Guerra da Tríplice Aliança. A lei do Ventre livre (e consequentemente, a própria natureza da escravidão) foi um dos assuntos mais polêmicos de 1871, mas os leitores do Jornal das Famílias só souberam disso por outros periódicos: A linha editorial do Jornal das Famílias não era informar as senhoras da corte sobre as grandes questões políticas da sua época, mas publicar folhetins açucarados e histórias moralizantes, receitas e modelagens para costura, artigos sobre artesanato, moda e economia doméstica. Machado de Assis começa a publicar na revista em seu segundo ano, 1864, quando ele contava 25 anos e ainda não era um escritor conhecido, e vai se tornar o colaborador mais prolífico da revista, com mais de 70 textos publicados, entre contos, crônicas e poesias. Apesar do jornal das famílias ter sido fundamental para o desenvolvimento literário de Machado de Assis, podemos especular que não era para ler seus contos que as leitoras compravam a revista: compravam, provavelmente, para ler  sobre moda, costura e economia doméstica, ou mesmo para ler os folhetins franceses. Os contos de Machado de Assis vinham como um agradável bônus.

Analise resumida do conto

“Mariana” começa com o narrador, Macedo, Voltando ao Rio depois de uma ausência de quinze anos. O personagem já se estabelece como fútil, pois todas as mudanças que repara na cidade se referem às superficialidades: boutiques, hotéis da moda, etc. Ele encontra um grupo de amigos e começam a conversar sobre o passado. Em breve, um dos amigos, Coutinho, toma controle da voz narrativa da história para explicar porque acabou não casando com uma prima de quem estava noivo. Ele começa contando que mulher que mais o amou em sua vida foi uma escrava de sua casa, Mariana, já causando com isso o espanto dos amigos.
Coutinho elogia a escrava por saber o seu lugar, mas quando ele fica noivo da prima, Mariana passa a agir de forma estranha. O narrador suspeita que seja paixonite por algum escravo, mas ela se recusa a dar detalhes, dizendo que é um amor impossível. Durante toda a história, enfatiza-se sempre que Mariana era tratada como se fosse da família. Aos poucos, enquanto Mariana vai ficando mais doente a medida que o casamento se aproxima, Coutinho se convence de que é ele o objeto do seu amor e acaba ordenando-a que fique boa: Mariana obedece. Assim como os amigos de Coutinho ouvindo a história, o amor de Mariana é descrito no conto com mofa, riso, escárnio, como se fosse uma grande loucura. Sentindo–se desejado, Coutinho tenta uma relação amorosa com a escrava mas ela não aceita e foge. Sem nenhuma empatia com o drama, a família fica revoltada com tamanha ingratidão da menina e termina trazendo-a de volta, mas Mariana continua triste. Sua tristeza ofende Coutinho, que lista todas as vantagens materiais que ela usufrui, deixando implícito que se ela não é chicoteada ou mal tratada, não tem porque estar triste: dores amorosas ou existenciais não são para escravos. Aos poucos, a noiva de Coutinho começa a ficar enciumada das atenções que ele devota à escrava. Quatro dias antes do casamento, Mariana foge de novo. Quando Coutinho a encontra, ela confessa seu amor impossível e se suicida na frente dele. Ao fazê-lo, Mariana jamais culpa nem o amado, nem o sistema escravista: culpa a natureza. Afinal, o mundo é assim mesmo. Coutinho fica tão conturbado com o episódio que sua noiva conclui que ele deveria ter algum tipo de caso de amor com a escrava e cancela o casamento.
A essa altura, o leitor já terá praticamente esquecido estar numa história dentro da história. A história termina como num banho de água fria: logo após Coutinho descrever em tom comovente a enormidade do amor de Mariana, Macedo retoma a voz narrativa e fecha o conto em três rápidas e fúteis linhas:
“Coutinho conclui assim a sua narração, que foi ouvida com tristeza por todos nós. Mas daí a pouco saímos pela Rua do Ouvidor fora, examinando os pés das damas que desciam dos carros, e fazendo a esse respeito mil reflexões mais ou menos engraçadas e oportunas. Duas horas de conversa tinha-nos restituído a mocidade.”
Durante toda a historia, Coutinho mostrou-se vaidoso e leviano, mas a voz narrativa de Macedo, completamente fútil, faz o primeiro parecer profundo na comparação. Na verdade, a leviandade de Macedo funciona como um diluidor da seriedade do drama de Mariana.
O conto executa um movimento de aproximação e afastamento: de início, um cenário fútil carioca; logo depois uma história de sacrifício e morte; para terminar, um novo interlúdio fútil, como se para mostrar que nada disso foi realmente importante. O que importa são os novos hotéis da cidade e os pezinhos da Rua do Ouvidor: os amores e o sacrifício de uma escrava, pelo contrário, são coisas que se contam e se esquecem em duas horas. Não apenas eles, entretanto: após a abolição, toda a sociedade brasileira realizou um esforço concentrado e proposital para esquecer a nódoa da escravatura.

As reações do Autor com relação ao Conto

Assim como Coutinho e Macedo, que rapidamente esquecem o sacrifício da pobre Mariana-escrava para ver pezinhos na Rua do Ouvidor, Machado de Assis também rapidamente esquece a Mariana-conto. Sua antologia seguinte, Histórias da Meia-Noite, de 1837, apresenta uma seleção de contos bastante fraca, nenhum dos quais superior à “Mariana”. De todos os contos produzidos nos anos anteriores, “Mariana” não foi selecionado para a antologia. Na verdade, pior que somente esquecê-la, ou não selecioná-la para publicação, Machado substitui-a. Em Várias Histórias, antologia lançada em 1896, um novo conto também chamado “Mariana” vêm substituir aquele no cânone machadiano, dessa vez contando a história de uma Mariana branca. Depois de jogados fora os exemplares do Jornal das Famílias de janeiro de 1871, “Mariana” para todos os fins e efeitos desapareceu, sendo descoberto apenas em 1954, publicado em livro pela primeira vez em “Contos Avulsos”, de 1956.


Contexto político

Escrito em meio a o maior debate sobre escravidão que o país já tinha visto, publicado em uma revista de variedades femininas e temas leves, lido por um público teoricamente desinteressado por política e então esquecido por mais de 80 anos, o conto “Mariana” aparentemente causou pouco impacto. Estaria Machado de Assis tentando conscientizar suas levianas leitoras sobre dilemas da escravidão usando uma mensagem em um meio que lhes fossem compreensíveis? Teria sido por isso que nunca republicou o conto, por considerá-lo didático, melodramático, abaixo de si? Não temos como saber com certeza as intenções de Machado, o que podemos ter certeza, no entanto, é de que ele não estava sozinho na tendência de não valorizar, ou não recuperar, textos sobre a escravidão escritos contemporaneamente a ela.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O Movimento em Heráclito


Nasceu em Éfeso, cidade da Lídia, na Ásia menor, descendia de família real.
Idealizador e propagador do “dinamismo Universal”, do nunca o mesmo, da modificação constante das coisas. O ser está sempre em eterna mudança, nunca atingindo o seu ponto máximo, nunca chega a ser, sempre no ainda não.
Para sustentar seu pensamento, em primeiro lugar, chamou a atenção para a perene mobilidade de todas as coisas que são: nada permanece estável, mas tudo se move, tudo muda, tudo se transforma, sem cessar e sem exceção.
Para explicar o seu pensamento se serve de dois símbolos: da guerra e do fogo.
“a guerra é a mãe de todas as coisas”, guerra entendida como conflito dos opostos, que se torna também geradora pelo fato de causar uma nova realidade, mesmo em meio à destruição (continua transformando as coisas), com a harmonia dos contrários.
Panta rei = tudo se move, tudo escorre, até mesmo o que parece sempre o mesmo, sofre mudanças, por agentes físicos e químicos na ação dos ventos quanto das chuvas ela vai se modificando.
POPPER= (comentador) Tudo está em fluxo até mesmo as vigas, a madeira, o material de que é feito o mundo: Terra, pedras e o bronze de um caldeirão, onde. As vigas apodrecem, a terra é levada e carregada pelas chuvas e ventos, as rochas quebram-se e se desfazem, o caldeirão adquire uma pátima verde (Zinabre).
O fogo é a própria imagem do movimento, pois vive da queima do combustível e dessa queima vem à transformação em cinzas, fumaça e vapores, é perene. (Logos, razão, inteligência).
Para NIETSCHE: Mesmo quando parece parado, se está em movimento, por que está se deteriorando.

Parmênides e a Imobilidade

Cria o pensamento ontológico.
Na contramão do pensamento de Heráclito com uma outra interpretação da realidade: O tema de sua filosofia é o contraste entre verdade e aparência. Para ele existe o ser, sendo assim o ser é (princípio) e não pode não ser: o não ser não é e não pode ser de modo nenhum.
Imobilidade do ser = “é imóvel, ele é perfeito e acabado e, como tal não carece e não tem necessidade de nada, e por isso, permanece em si mesmo idêntico no idêntico, mesmo em seu mesmo, permanente em sua permanência.”
Para Parmênides não pode haver movimento, nem mudança, tão pouco transformação, a não ser em nossa imaginação.

POPPER = “o movimento (é ilusão) era impossível nesse mundo, a mudança era inexistente.
Realidade é imutável, baseado em uma única premissa: o que não é não é.
Existe a imobilidade, um constante não modificar.
* Verdade e aparência: só podem ser explicadas pela razão, uma vez que os sentidos, pelos contrários, se detêm na aparência e pretendem testemunhar o nascer, o perecer, o mudar das coisas, ou seja, ao mesmo tempo o seu “ser e não ser”. (estabilidade ontológica).

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Como utilizar o Sofrimento do trabalho como estratégias de luta




 

São inúmeras as reflexões, reclamações acerca do trabalho. Palavra que tem sua origem do latim TRIPALIUN, instrumento de tortura da idade média composto de três varas que esticavam o individuo, mesmo assim muitas pessoas afirmam que é o trabalho um dignificador do ser humano, contudo podemos dizer, ao analisar os meios de vida de sociedades ditas primitivas, tais como, os povos indígenas, agrupamentos africanos e aborígenes nos quais se tem uma visão da vida bem diferente da cultura burguesa capitalista desenvolvida principalmente a partir da Revolução Industrial.
Para esses indivíduos o importante é o aproveitamento da vida como um todo, talvez devido a isso eles têm um contato mais estreito com  a natureza, e o estresse, provocado por uma vida que corre atrás de metas e cobranças do mundo do trabalho nos leva a concluir que o trabalho tem razão de ser para ter sua origem num objeto de tortura, se tratando de algo  anti-natural do ser humano que procura a felicidade e a auto realização no dia a dia e muitas vezes preso em  metas impostas por um mercado competitivo e desumano, se sente um peixe fora d'água.
Porém absorvidos por esse modelo globalizado e internalizando suas cobranças, muitas pessoas agora procuram a realização e felicidade no modelo capitalista do trabalho, que prega a competição, o esforço, pessoal, coisificação, onde se vale pelo que se tem e não pelo que se é. (a autora chama a isso de crise da civilização).
Prezo nessa busca incessante de realização pautada no prazer, por vezes irrefletido, conduz as pessoas ao um nihilismo e torna a sociedade insatisfeita.
Como estratégia de luta frente a essa situação é necessário recuperar a visão de conjunto, trabalhar em grupo, fortalecer o conceito de classe, buscar espaço, auto valorizar-se e lutar pela valorização de sua profissão em conjunto com seus colegas.
E quanto ao sofrimento que muitos experimentam no trabalho e em decorrência dele, é preciso ter a consciência de que esse sofrimento nem sempre é culpa sua. Sentimentos de abandono e desvalorização aparecem principalmente à aquelas pessoas que são encarregados de cuidar de outras de inúmeras formas que ocasiona a Síndrome de Burnout, sendo assim é preciso parar refletir no cuidado de si, pois principalmente os profissionais como professores, as vezes se perdem no intuito de formar, politizar e cuidar de seus educandos, mas quem cuida deles? Desta maneira tem se que parar e cuidar antes de seus problemas no tocante ao emocional para ter forças e condições para oferecer um trabalho com mais qualidade.
Mas, como nos referimos acima é preciso fazer isso juntos, como uma classe, ir contra a ideia de individualidade pregado pela moral capitalista do consumo.
Poderíamos aqui enumerar os diversos problemas pelos quais os professores passam: falta de motivação, problemas de vós, sentimento de abandono e desvalorização, mas estaríamos como se diz popularmente “chovendo no molhado”, pois tudo isso já sabemos, o importante é unidos com um sentimento de classe tentar resolver esses dilemas e dificuldades, uma vez que incumbidos da tarefa sublime de educar possamos elaborar técnicas para utilizar o “sofrimento” no trabalho a nosso favor, como um motor a nos impulsionar contra as dificuldades.
Sabemos muito bem que o profissional da educação se sente por vezes isolado, só contra todos os encargos, burocráticos, psicológicos, educacionais e inclusive os dramas de famílias que na maioria das vezes não possuem o mínimo sustento e estrutura familiar básica.
O ideal trazendo o pensamento de Aristóteles seria a valorização do ócio criativo, ou seja, dar mais tempo ao professor para que se aperfeiçoe em sua área e consiga preparar aulas melhores, mais criativas e estimulantes. Pois, enquanto o docente se sobrecarrega de mil tarefas, triplicando sua jornada de trabalho, se isola e não consegue assim fazer valer estratégias de luta pela realização de um trabalho a contento.

Eu estou revoltada, acho que todos os professores estão revoltados. Não está sendo justo. Cada profissional está sofrendo isoladamente e não está acontecendo uma discussão maior para se tomar providências em relação a isto. É tratado como problema de saúde individual. (professor/a apud Andrea Caldas).

Sabemos dos problemas, e temos que ter claro que para resolvê-los não temos fórmulas proféticas, precisamos colocar os pés no chão, criar consciência de classe para juntos lutar e conseguir as mudanças necessárias à felicidade no trabalho em detrimento do sofrimento.